“Frida Kahlo Conexões entre mulheres surrealistas no México”

Data: 30/01/2016
Horário: 10:00
Local: Caixa Cultural Rio de Janeiro
Avenida Almirante Barroso, nº 25 Centro
(Ao lado da Estação Carioca do Metrô)
Rio de Janeiro/RJ

A exposição Frida Kahlo: Conexões entre mulheres surrealistas no México propõe um diálogo entre um grupo de mulheres artistas mexicanas e estrangeiras vinculadas ao surrealismo, que gira em torno da figura de Fidra Kahlo como detonador de uma série de influências e movimentos geográficos entre México, Europa e Estados Unidos. Algumas dessas mulheres nasceram e produziram a maior parte de sua obra no México, como Marìa Izquierdo e Lola àlvares Bravo, e compartilharam com Kahlo não apenas a amizade, mas também o interesse pelo resgate da cultura e das tradições de sua terra natal. Remedios Varo e Alice Rahon que descobriram a fascinante cultura mexicana por intermédio de Kahlo, quando ela viajou a Paris em 1938, figiram da guerra e se estabeleceram definitivamente no México. Leonora Carrington e Kati Horna chegaram pouco depois e se somaram ao grupo de exiladas. Rosa Rolanda e Bridget Tichenor vieram dos Estados Unidos e ficaram no México pelo resto de suas vidas. Outras artistas como Jacqueline Lamba ou Sylvia Fein foram visitantes fugazes, atraídas pelas culturas ancestrais, e realizaram obras que levam a marca de sua passagem por esse lugar.

Frida Kahlo e sua enigmática rede de espelhos

Em grande parte, a história da arte é uma história de obras, soluções, formas, temas e debates que cada artista, grupo, momento histórico e movimento consegue interpretar e levar adiante. Nesse sentido, esta exposição cria e amplia de forma contundente pontos de conexão entre o público e as produções direta ou indiretamente associadas à vanguarda surrealista.

Esta exposição da produção mexicana realizada por mulheres que traçaram uma visão potente do país recorrendo a questões oníricas, subjetivas e de raízes populares, sugere características de um surrealismo muito diferente daquele observado nos países onde essa expressão já está mais “domesticada”.

É extraordinário o esforço do México em divulgar a sua produção cultural, mas que, ao mesmo tempo, estabelece rígidas garantias para manter preservado o seu excepcional patrimônio artístico. Por isso a dificuldade em organizar e reunir um acervo expressivo, que possa dar a real medida desse recorte da arte mexicana. Para realizar esta vigorosa exposição, o Instituto Tomie Ohtake pesquisou dezenas de coleções e lutou intensamente para reunir um número relevante de obras, como as de Frida que, afinal, em pinturas, deixou apenas 143 trabalhos.

Entre pinturas, esculturas e fotografias, além de documentos, registros fotográficos, catálogos e reportagens, a mostra permite confrontar uma face desafiadora do surrealismo. A intensidade, dramaticidade e subjetividade das obras dessas artistas tornam esse conjunto inquietante até para aqueles mais familiarizados com o movimento, que originalmente surgiu na França na década de 1920, tendo como maior predicado a tentativa de escapar ao império do realismo e da racionalidade, acenando para o inconsciente, o acaso e o onírico. Na produção das artistas conectadas ao surrealismo que passaram pelo México, os tópicos já consagrados na discussão dessa corrente de arte se multiplicam e extravasam muitas fronteiras, o que se reflete em imagens pungentes e inesquecíveis por suas cores e traços impositivos, pelos elementos da cultura nativa mexicana, pelos gestos confrontadores e pelo desprezo por qualquer convenção relacionada ao bom gosto burguês tradicional.

Em outra medida, a história da arte se traça por meio de sinergias e tensões entre pessoas, indivíduos e grupos que se encontram por causa da arte ou pensam a arte por causa de seus encontros. Nesse sentido, também, esta também é uma exposição impactante, pois a pesquisa minuciosa da curadora Teresa Arcq descortina a forma como uma rede intricada, com inúmeras personagens, se formou tendo como eixo a figura de Frida Kahlo. O foco dessa história são artistas mulheres, muitas delas reconhecidas no passado como “esposas” desse ou daquele artista. Aqui, elas são protagonistas, criam aproximações, promovem eventos, trocam correspondências, desafiaram lugares comuns, escapam de qualquer submissão e, claro, produzem obras de arte de vigor inquestionável.

Que as mexicanas natas Frida Kahlo, Lola àlvarez Bravo e Mària Izquierdo, junto às radicadas  Leonora Carrington, Kati Horna, Jacqueline Lamba, Alice Rahon e Remedios Varo entre outras, possam ser reconhecidas nos enigmáticos espelhos que construíram.