“Rapunzel” – Flávia Bertinato
Acontecendo no mundo - 30 de março de 2016
No conto popular compilado pelos irmãos Grimm, Rapunzel é a menina cujo destino é definido pelo poder mágico de seus longos cabelos loiros. Eles são ao mesmo tempo a causa de sua maldição e o acesso a sua liberdade. No fundo, as tranças se tornam as protagonistas da história, frequentemente representadas como se tivessem vida própria em ilustrações antigas. E como em todo conto de fadas, a beleza está associada à magia: ambas são sedutoras e encantatórias, mas também levam à cegueira (literal nesse caso) ou a algum ato violento, antes que tudo finalmente termine bem.
Na instalação de Flávia Bertinato intitulada “Rapunzel”, sete carretéis de tamanhos diferentes enrolam longas e finas tranças de sisal, transpassadas por tesouras cirúrgicas douradas. O momento evocado é aquele posterior à ação violenta que acabou momentaneamente com o encanto da personagem principal. Como em outros trabalhos da artista, “Rapunzel” apresenta o tempo em suspensão, o corte de uma sequência narrativa que se revela como instante de alta tensão. O emaranhado de tranças pode se regenerar e tomar o espaço em trama infinita, bem como permanecer imóvel, sem vida.
Bertinato acessa o imaginário popular para nos colocar diante do senso comum em relação às ideias de amor, sedução e feminilidade, naturalmente com ironia e ambiguidade. Pois, se por um lado a atração pela beleza é reiterada, por outro, o elemento disruptivo que é seu duplo também está presente. Em certo sentido, isso corresponde à própria relação que estabelecemos com a arte. Seus objetos são feitos para seduzir e nos seduzem, mas essa atração não é apenas engano. Ela também pode ser a passagem para o avesso, o outro lado.
Flávia Bertinato, mineira de Pouso Alegre e hoje radicada em Belo Horizonte, fez formação em doutorado em artes visuais em Universidades de São Paulo. Há mais de uma década, ela vem mostrando seus trabalhos em exposições individuais ou coletivas, em espaços culturais e galerias de arte.Tem atuado com fotografia, pintura e instalações.
Considera que, de certa forma, as três linguagens estão mescladas no que ela faz. “A distribuição dos elementos no espaço e o uso da cor nas instalações são empréstimos da linguagem da pintura”, observa. “Se um projeto não cabe num meio, migro para outro”, explica Flávia.
A exposição “Rapunzel” de Flávia Bertinato pode ser vista no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. Rua Primeiro de Março, nº66, 2º andar. Centro/RJ
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