O que 2015 reserva nas artes plásticas

Acontecendo no mundo - 14 de janeiro de 2015

2015 reserva exposições de arte contemporânea, com recorte da Bienal de São Paulo, e também mostras de artistas clássicos, como o surrealista Chagall

Obra de Gülsün Karamustafa, da Bienal de São Paulo, aporta em Juiz de Fora, no Mamm, em abril

Obra de Gülsün Karamustafa, da Bienal de São Paulo, aporta em Juiz de Fora, no Mamm, em abril

Ano bom é ano inteiro, vasto, múltiplo e diversificado. 2015 corre grandes riscos, felizmente, de ser assim. E, ao que tudo indica, o primeiro semestre será bem mais interessante que o segundo.

Em abril, a itinerância da 31ª Bienal de São Paulo aporta no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm).

Menos polêmica, ainda que muito mais política, a mostra apresentada no pavilhão do Parque do Ibirapuera, com curadoria do escocês Charles Esche, agradou a crítica ao apostar numa narrativa próxima do ativismo.

“Essa bienal foi muito atípica. A maioria dos trabalhos é em vídeos e instalações muito abstratas”, comenta Afonso Rodrigues, responsável pelo setor de artes visuais do Mamm, pontuando o desafio de se estabelecer um recorte diante das limitações de espaço e estrutura.

Os vídeos e instalações, bastante ousados no conjunto da Bienal, não ficarão de fora da montagem em Juiz de Fora, que receberá prioritariamente suportes mais tradicionais, como pintura, fotografia, desenho, tapeçaria e design.

“A seleção está muito dinâmica. São obras muito instigantes e plurais”, comemora Afonso, destacando a obra da turca Gülsün Karamustafa, que expõe uma colagem de tecidos, formando um grande vestido, e um vídeo em dois canais, sobre a vida das mulheres nos Bálcãs durante as guerras dos anos 1990. A terceira edição da bienal na cidade promete ser uma das mais interessantes e instigantes, além de bastante “clean”.

Com uma montagem igualmente atraente, “Marc Chagall, fábulas de La Fontaine” entra em cartaz em janeiro e permanece até março, no Espaço Cultural Correios. A mostra reúne gravuras em metal feitas pelo artista russo representando as muitas fábulas criadas pelo escritor francês. Em seguida, a galeria recebe “Anônimos do Rossio”, com o trabalho realizado pelo fotógrafo mineiro Luiz Jugnmann Girafa em uma praça de Lisboa.

O restante da programação depende do resultado do edital público, cujas inscrições foram encerradas em novembro. A galeria do Fórum da Cultura também dependerá de um edital, a ser aberto em março, para ocupação do espaço em 2015.

Segundo o curador da instituição, José Luiz Ribeiro, o lugar entrará em reforma logo após as festas de fim de ano e retornará sem os problemáticos cupins que há anos atormentam artistas e funcionários da casa.

Esculturas realistas de Ron Mueck atraíram milhares ao Mam-Rio

Esculturas realistas de Ron Mueck atraíram milhares ao Mam-Rio

Ainda sem a agenda fechada, as galerias particulares da cidade entram o ano com muitas incertezas, mas projetos definidos de ação.

Enquanto a Hiato – Ambiente de Arte já tem confirmada para o primeiro semestre a elogiada exposição individual do artista plástico carioca Osvaldo Carvalho, que se apresentou no Museu de Arte Contemporânea de Niterói esse ano – além do edital Carne Fresca, no segundo semestre -, a Galeria Manufato planeja um evento de grandes proporções para comemorar o aniversário de Juiz de Fora.

Já a Casa Vinteum, espera lançar, ainda no início do ano, a série de vídeos “Tá em casa”, com depoimentos poéticos de artistas visuais. “Quando conhecemos o artista, nos aproximamos de sua obra. A ideia é dar voz a esses sujeitos e, por consequência, a seus trabalhos”, explica Nina Mello, coordenadora do espaço.

Além do Foto 15, projeto que no próximo ano deverá contar, também, com as duas galerias do primeiro andar do Museu de Arte Murilo Mendes, com exibição dos trabalhos do carioca Paulo Couri e do belo-horizontino Pedro David, está previsto um evento semelhante para os artistas visuais que não têm na fotografia sua expressão.

De acordo com o superintendente da Funalfa Toninho Dutra, ainda não foi definido o nome nem o formato, mas já é certa a primeira edição para 2015. Os cinco projetos aprovados na edição desse ano da Lei Murilo Mendes também chegarão ao público nos próximos meses.

Os livros “Senescência”, de Nina Mello, “Do piso à parede – a arte de Pantaleone Arcuri”, de Iriê Salomão, “Por que design é linguagem”, de Frederico Braida e “Proposições fotográficas, o corpo: entre o ilusório e o real”, de Lizandra Romano, além da exposição “Maria Antonieta, a última rainha”, de Yure Mendes, completam a perspectiva de um ano repleto de cores nos cubos brancos da cidade.

O que passou, sem grandes brilhos

2014 começou com o melhor. A retrospectiva da produção pictórica de Angelo Bigi, no Museu de Arte Murilo Mendes, deu o tom, logo em janeiro, da sequência de mostras com montagens bem apuradas, como a de Margareth Mee, no Espaço Cultural Correios, entre junho e agosto.

Em comemoração ao aniversário da cidade, o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas recebeu uma agigantada e justa exposição em homenagem à família Bracher.

Falando nisso, Carlos inaugurou, no início desse mês, a retrospectiva de sua vida, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte. Pedro Guedes e Petrillo também viajaram, ocupando galerias dos Correios em outros estados.

No setor particular, enquanto o proprietário da Hiato – Ambiente de Arte acertou ao abrir o edital Carne Fresca para toda a Região Sudeste, apresentando uma das coletivas mais interessantes do projeto, a artista e fotógrafa Nina Mello inaugurou seu novo espaço, a Casa Vinteum, no Bairro São Mateus, com uma inédita infra-estrutura.

Como nos outros anos, as artes visuais se mantém como linguagem desprestigiada pelo público em Juiz de Fora.

Segundo dados do Museu de Arte Murilo Mendes (fechado durante quase três meses, por conta da greve), as exposições que a casa sediou ao longo do ano resultaram em uma audiência de cerca de sete mil pessoas.

Já o Espaço Cultural Correios recebeu, em 2014, aproximadamente 70 mil visitantes para suas mostras.

Ironicamente, nas grandes capitais esse foi o ano das mega visitações.

Ron Mueck fez filas e mais filas se formarem na porta do Mam-Rio e agora faz o mesmo na Pinacoteca, onde o Museu Mariano Procópio apresenta algumas de suas peças.

Dalí levou quase um milhão de espectadores ao CCBB do Rio, e a japonesa Yayoi Kusama, quase meio milhão ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, onde também foi sucesso a mostra do “Castelo Rá-tim-bum”.

Se em Juiz de Fora faltou algum brilho, foi o que sobrou fora daqui.

Fonte: Tribuna de Minas